2007-09-18

recordando

Astrid, num pique-nique com família, em tempo de felicidade, pastel, foto com efeito de flash.

Recordando a

Doce tuberculose

ou,

Como perdi uma irmã
ou,

Resumo de alguns anos da minha psicanálise
ou

A minha história, desde os 4 anos

Era uma vez uma senhora a (minha mãe) que tinha duas filhas: uma muito gorda outra muito magra(eu).Uma tinha 6 anos a outra 4. Como esta última não comia nada, a mãe, o pai, os empregados faziam o pino em cima das mesas para a menina comer! Ela apenas os olhava com uns enormes olhos azuis.
A irmã mais velha comia, comia , mas, ao contrário do que esperava, nem o pai , nem a mãe, elogiavam a comesaina. Pelo contrário.

Isto criou o primeiro fosso entre as irmãs.

O segundo fosso aconteceu quando descobriram que a magrinha estava tuberculosa. Então, a mãe das meninas não aguentando aquele baque devolveu as filhas às avós: a materna para a magrinha ( a quem tinha sido posto o mesmo nome de baptismo da avó, Alice) a gorda, à outra avó que se passou a chamar avó gorda ( e que tambem tinha o mesmo nome de baptismo da neta gordinha. Coincidências!)

A avó magra, quarenta e tal anos, tinha acabado de enviuvar do grande e único amor da sua vida, o avô magro e recebeu a menina (eu) como quem recebe um anjo do céu. "Eu vou tratar de ti!" E cobria-a dos beijos mais doces. E a avó magra chamou a outra filha que ainda vivia com ela, a tia magra que era uma princeza, linda, meiga e tinha também uns olhos azuis maravilhosos. E a tia magra cantava para a menina magra se curar, sem se cansar um minuto.


E passados uns anitos a menina estava curada!

O terceiro fosso foi que a menina magra que passou a viver com a avó e tia magras, arranjou aquelas duas mães de substituição, tão gratificantes que pareciam as gémeas da verdadeira mãe: todas de olhos azuis, lindos. A mãe biológica fora, entretanto, morar para o Brasil.

A mana gorda ficou aos cuidados da avó gorda, trabalhadora de escritório, grevista, endinheirada e furreta, também viúva recente, sem acreditar no casamento.

Certo dia, a mana magra , com as suas "duas novas mães" cheirosinhas, foi fazer uma visita à mana gorda que morava, então, para os lados velhos da cidade de Lisboa. E, então, pode observar que a avó gorda lhe tinha comprado umas novas botas, mas vários números acima.

E não é que a botas tinham atacadores de arame? Pobre e querida gordinha do meu coração, sentiu a miúda magra, em relação à irmã.

E abriu-se a brecha definitiva : ela ( a miúda gorda) passou a odiar a irmã que tinha duas mães
( eu) quando ela não tinha nenhuma.Ou seja, passou a odiar a mãe verdadeira e a irmã (eu).

Nunca mais falou a qualquer delas.Falava de soslaio para a avó magra e a para a tia magra. E assim foi, toda a vida e mais seis meses.

E não percebeu ou percebe que a culpa, afinal foi da tuberculose.

Para ela, a tuberculose da miúda magra (eu) foi um pretexto para a abandonarem!

E ainda há os que não acreditam na psicanálise!E prefiram reduzir tudo a amor e ódio.
Estupidez.