Acidente rodoviário seguido de pesadelo e gripe
Estou triste
Poderia dizer, irritada
Até defunta
Como um mau poeta a querer escarrar a morte
Que os meus irmãos me impõe.
No dia a dia
Como se fosse um prémio que eu tivesse tirado na lotaria.
Grandes irmãos!
Salvei-me por um triz
De ser cortada pelos ganchos da camionete
E devia ficar contente!...
Mas não, porque nesta guerra, amanhã os meus irmãos
Irão contratar outro provocador engenho
E saborear o prazer de, enfim, me ver triturada.
O que se irá atravessar, amanhã, no meu caminho?
Lembram-se da Casa Amarela, em Arles, onde Vincent viveu?
Sofreu de tal forma que arrancou a orelha à facada e foi
Entregá-la a uma casa de prostitutas
Que triste para Vicent ter de se fingir de louco
Para a fazer o jeito aos habitantes de Arles
Pois eu também moro quase sempre, numa casa Amarela
Tenho percorrido
Todos os seus labirintos
Em noites de pujantes tempestades
E venho sempre dar aqui
A esta sala
Encontrar não sei o quê
ganhar-me e perder-me
Colada ao chão
Sem voz
Para sequer fugir
2006-10-30
Acidente rodoviário seguido de quase-morte e gripe
Posted by
astrid
at
segunda-feira, outubro 30, 2006