Doce tuberculose
Era uma vez uma senhora que tinha duas filhas: uma muito gorda outra muito magra.Uma tinha 6 anos a outra 4. Como esta última não comia nada, a mãe, o pai, os empregados faziam o pino em cima das mesas para a menina comer! Ela apenas os olhava com uns enormes olhos azuis.
A irmã mais velha comia, comia , mas, ao contrário do que esperava, nem o pai , nem a mãe, elogiavam a comesaina. Pelo contrário.
Isto criou o primeiro fosso entre as irmãs.
O segundo fosso aconteceu quando descobriram que a magrinha estava tuberculosa. Então, a mãe das meninas não aguentando aquele baque devolveu as filhas às avós: a materna para a magrinha ( a quem tinha sido posto o mesmo nome de baptismo) a a gorda à outra avó que se passou a chamar avó gorda ( e que tambem tinha o mesmo nome de baptismo da neta gorginha.Coincidências!)
A avó magra, quarenta e tal anos, tinha acabado de enviuvar do grande e único amor da sua vida, o avô magro e recebeu a menina como quem recebe um anjo do céu. "Eu vou tratar de ti!" E cobria-a dos beijos mais doces. E a avó magra chamou a outra filha que ainda vivia com ela, a tia magra que era uma princeza, linda, meiga e tinha uns olhos azuis maravilhosos. E a tia magra cantava para a menina magra se curar, sem se cansar um minuto. (E passados uns anitos a menina estava curada!)
O terceiro fosso foi que a menina magra que passou a viver com a avó e tia magras, arranjou duas mães de substituição tão gratificantes que pareciam as gémeas da verdadeira mãe todas olhos azuis lindos. A mãe biológica fora, entretanto, morar para o Brasil.
A mana obesa ficou aos cuidados da avó gorda, trabalhadora de escritório, grevista, endiheirada e furreta, também viúva recente, sem acreditar no casamento, ou gostar do marido.
Certo dia, a mana magra , com as suas "duas novas mães" cheirosinhas, foi fazer uma visita à mana obesa que morava para os lados velhos da cidade. E, então, pode observar que a avó gorda lhe tinha comprado umas novas botas, mas vários números acima. E não é que a botas tinham atacadores de arame? Pobre e querida gordinha do meu coração, sentiu a miúda magra.
E abriu-se a brecha definitiva : ela passou a odiar a irmã que tinha duas mães, quando ela não tinha nenhuma.Ou seja, passou a odiar a mãe verdadeira e a irmã. Nunca mais falou a qualquer delas.Falava de soslaio para a avó magra e a para a tia magra. E assim foi, toda a vida e mais seis meses. E não percebe que a culpa, afinal foi da tuberculose. Para ela, a tuberculose foi um pretexto para a abandonarem!
E ainda há os que não acreditam na psicanálise!