2006-08-08

Mia Couto,Contos do Nascer da Terra

Mia Couto a sua escrita é mágica. Isto para mim é mágico. Dizer isto. Durante uma década fui zeladora do Parque dos Romances. Sem salário. Nem estava a namorar o tempo.

Tanto romance arrumei no Parque que os meus olhos ficaram exaustos de papel. Enxutos de sensações.

Depois entraram na minha vida os positrões, os neutrões e outras partículas. Enfim, o que é a matéria? O Espaço, o Tempo?

Caí na Física e em Kant, com Prygogine pelo meio


Antes de Kant, depois dele: Eis o mundo.

O cansaço levou-me à pintura. Com mais genica!!! Aí encontrei uma coisa absolutamente nova: as nuvens!

Tornei-me uma observadora de nuvens (profissional). Profissão cadastrada nas finanças e tributada como ON. Consegui mesmo esboçar uma teoria “A teoria das Nuvens”, em papel. Um dia vou lembra-me dela.

Mas hoje, exactamente agora, vai o maior abraço para si Mia Couto. Porque eu tomei-me de amores pela sua cozinheira lacrimosa (Contos do Nascer Da Terra, Ed. Caminho outras margens)

Eu conto.

No conto responde a cozinheira das lágrimas ao sargento colonial: “Eu de onde vim tenho lembrança é de coqueiros, aquele marejar das folhas faz conta a gente está sempre rente ao mar. É, só isso, patrão!”

É só isto, entendes, Mundo, digo eu?

“…. aquele marejar das folhas faz conta a gente está sempre rente ao mar…”

Para MCouto o universo, ora se expande, no Tempo e o Tempo esse expande e encolhe as suas personagens que são matéria, em primeiro lugar, como a Sobrinha e a Indiana gorda. Até que rebentam como um balão. Ah!Ah!

Pois,

De repente, cai tudo na antimatéria: mesas, cadeiras, etc. Foi esse o fim da Indiana Gorda. Só se salvou o comando da televisão (Porquê este precioso objecto, não percebo?)

A causa da sedução instintiva do leitor é transmitir-lhe, este o seu código de submissão ao rapidismo do ciclo das personagens e do mundo que as rodeia.

A Sobrinha e a Indiana Gorda passam da matéria, à antimatéria, à matéria, à antimatéria, Ciclo dos ciclos individuais.

(você, MCouto ainda anda ”às procuras” nas entranhas das galáxias, da antimatéria em que transforma as suas personagens. É um Físico mascarado de escritor ou vice-versa).


MC, por instinto, optou por este ciclo da expansão e morte (nova expansão, mais pequena, ainda mais pequena) do (s) seu universo (s) – cena- literária(s)

Depois do zero volta quase ao principio, faz renascer as personagens!

A cozinheira lacrimosa, ao contrário, é sentimento em estado puríssimo (Indiana e da Sobrinha estão escravizadas ao seu Ciclo, coitadas delas)

Nenhum sargento colonial poderia levar a cozinheira lacrimosa pelos céus.

Nem mesmo um General.

Só mesmo aquele marejar das folhas…