
Dois excertos de José Gil, em "Monstros", pág 58, Relógio D´Àgua
"Provavelmente, o homem só produz monstros por uma única razão: poder pensar a sua própria humanidade"...
..."Assim como o chiste e o grotesco interrompem a ordem medieval e a perturbam, assim como as catedrais estão pejadas de grifos, hermafroditas, bicéfalos e sereias, também o texto sagrado é subvertido pelas figuras monstruosas. Subversão essa que, como é sabido, garante aliás, a solidez arquitectónica do mundo real."
Trocando por miúdos:Precisamos dos "anormais" para sermos ( ou nos sentirmos) normais.
Por isso, cuidado, não vá a nossa vaidade gerar "anormais", para pudermos, nós mesmos, passar o inútil da nossa existência a dizer mal deles.
E é assim, nas famílias e nas empresas onde até há sistemas de avaliação das pessoas/trabalhadores cujo único objectivo é olear o Ego do avaliador e fazer crescer a inveja, o ódio, a mesquinhês e outros bons sentimentos.
Por vezes, nos bolsos do avaliador cresem uns niqueís, quando ele sobe à montanha, tal Zaratustra para gritar "EU SOU BOM!!!!!!!!"
E o eco fica a trabalhar para o ego, tipo ping-pong, espelho meu , espelho meu, haverá alguém mais bela (o) que Eu?
Já no discurso político as coisas mudam, pois o objectivo é: votem em mim!
Subliminarmente o político quando pede o voto está a dizer "Normais, votem em mim" ou mesmo "Sobredotados votem em mim!
São encantadores durantes os períodos eleitorais e nós somos os Encantados.
Nem quando somos amados, somos normais!
Nesse momento, somos verdadeiramente estrelas.
Paradoxalmente, nunca somos normais e somos sempre normais. Conforme as conveniências.