A sensação que tenho quando me sento (finalmente) numa sala de cinema é : Ah! finalmente!!!
Normalmente estou tão cansada que me atiro para o fundo da “poltrona” ( “atiro” é uma forma de expressão) com a mesma esperança com que me sento nos vôos mais longos.
Penso “ As luzes agacham-se agora e durante, pelo menos mais de uma hora, ninguém me irá chatear.”
No sábado fui ver o filme do Almodôvar “Volver” com os meus filhos.
Houve um minuto em que achei o filme particularmente previsível: quando a Raimunda (Penélope Cruz ) aluga a carrinha que transportará o cadáver do marido (metido numa arca frigorifica) para a romântica campa à beira do rio ( rio que ele amava.)
Então, pensei : “a polícia vai dar com isto facilmente. Ela está deixar pistas.” Estava a pensar no aluguer, contacto telefónico e tal…
O meu filho tinha-me confidenciado nesse preciso minuto, em surdina “Sabes o que ela vai fazer ao corpo? Servi-lo no Restaurante! (no filme, a Raimunda é proprietária de um Restaurante de que é pertença a arca frigorífica /caixão)
Enganámo-nos os dois.
Aí é que está a lógica do filme:
As Instituições não metem o bedelho, nem polícia, nem tribunais…bla, bla e não há canibais , embora a banalização do Mal venda Bem. Não vejo o Almodovar cair na tentação do canibalismo ( em sentido literal)
E faz-se Justiça! E elas acabam por ser a mão de Deus.
O marido de Raimunda ( Penélope) cometera um crime ( tentativa de estuprar filha que se defendera, eficazmente, à facada )
É a mãe- mulher Raimunda que em simultâneo, lava o sangue, oculta o cadáver, consala a filha e depois enterra o homem, com os seus músculos e delicadeza e os olhos rasos de água.
A Mãe de Raimunda (Carmen Maura) fizera, antes: Justiça, matara o “seu homem” ateando-lhe fogo. Só o sabemos porque ela o conta.
A violência das duas gerações aparece entrecruzada durante os crimes de abuso sexual que na geração anterior também tinham sido cometidos . Mas a Mãe da Mãe também é ela beleza, amor, riso, bênção da vida e Justiça ( papel magnifico de Maura)
E é esta harmonia que neste filme que nos reconcilia com a vida.
Os homens são vítimas de uma sexualidade cega e desenfreada e por ela, com ela vitimizam as mulheres que até amam, provavelmente. E é assim, nas duas gerações. Tudo é sólido e continuará sólido por causa das mães.
2006-09-12
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Posted by
astrid
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terça-feira, setembro 12, 2006